Feminicídio negro em curso Suelen Aires Gonçalves
Socióloga e professora universitáriastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Segundo o Atlas da Violência, lançado em 30 de agosto, os dados sobre violência contra as meninas e mulheres apresenta-se como um fenômeno presente na sociedade brasileira. Hoje, iremos tratar dos crimes de feminicídio (morte pelo fato de serem mulheres), trazendo a intersecção de raça como um fator importante de reflexão e indignação.
Somente em 2019, tivemos 3.737 mulheres assassinadas no Brasil. Houve uma redução em relação ao ano de 2018, que teve 4.519 homicídios femininos registrados. Ou seja, estamos diante de uma redução de 17,3% nos números absolutos. Em tese, uma boa notícia diante da conjuntura, porém, os feminicídios contra mulheres negras necessitam de um olhar mais aprofundado para compreender suas causas, motivações, circunstâncias.
Em 2019, 66% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras. Em termos relativos, enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 2,5%, a mesma taxa para as mulheres negras foi de 4,1%. Isso quer dizer que o risco relativo de uma mulher negra ser vítima de homicídio é 1,7 vezes maior do que o de uma mulher não negra, ou seja, para cada mulher não negra morta, morrem 1,7 mulheres negras.
OS NÚMEROS E A REALIDADE
Essa tendência vem sendo verificada há vários anos, mas o que a análise dos últimos 11 anos indica, é que a redução da violência letal não se traduziu na redução da desigualdade racial. Os números absolutos revelam ainda maior desigualdade na intersecção entre raça e sexo na mortalidade feminina. Entre 2009 e 2019, segundo pesquisas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o total de mulheres negras vítimas de homicídios apresentou aumento de 2%, passando de 2.419 vítimas em 2009, para 2.468 em 2019. Enquanto isso, o número de mulheres não negras (brancas) assassinadas caiu 26,9% no mesmo período, passando, de 1.636 mulheres mortas em 2009, para 1.196 em 2019.
Precisamos nomear para classificar, como diria Wânia Pasinato. Estamos diante do fenômeno do feminicídio negro. Precisamos de um olhar e de mais diálogo com as desigualdades de gênero e raça para compreender o fenômeno e propor ações e políticas píblicfa de enfrentamento as mortes de mulheres negras no Brasil.
O negócio do medo Silvana Maldaner
Editora de revistastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Estamos vivendo uma batalha diária, uma tarefa árdua para toda a vida, a de enfrentar os nossos medos e mais os medos que os outros querem nos impor. Na nossa sociedade superconectada, os medos se multiplicam. No passado, a notícia se espalhava lentamente e, quando chegava, já não tinha mais o mesmo impacto, pois as soluções já haviam sido encontradas.
Este imediatismo e interconexão são positivos, mas também podem ser uma grande armadilha. Tornamos-nos eternamente inseguros e prestes a ser atingidos por mais uma peste, uma praga ou um furacão que atingiu uma comunidade há 15 mil km de distância.
Tememos o perigo real, mas, também, o perigo difuso, distante, remoto e que talvez nunca chegue.
Tenho visto pessoas absolutamente presas aos seus medos irreais e improváveis. O medo paralisante provoca atos irracionais e desencadeia a solidão e a depressão que mata lentamente.
O medo mata todos os dias a esperança, a alegria, o sonho, a motivação, a vontade de inovar, de assumir novos riscos e, principalmente, a vontade de viver.
Quando ficamos lutando com monstros imaginários, nossa mente se ocupa e se desgasta, tirando toda a energia e se desconectando com o que é essencial, divino e indestrutível.
Feliz daquele que consegue se libertar dos medos, pelos menos os irracionais, os superdimencionados e aqueles criados por grupos que pretendem limitar e direcionar as ações de uma comunidade. Entre os principais medos que encontramos, com certeza, o medo de morrer é o mais paralisante. Mas quanta gente deixa de viver por causa do medo de morrer?
Depois, encontramos os outros medos que acompanham as pessoas: de fracassar, perder emprego e renda, perder pessoas queridas, perder reputação, ou simplesmente, medo de ser criticado.
Esta minha experiência semanal de opinar, divagar ou, simplesmente, de questionar, tem mostrado como é desafiador externar sentimentos, indignações ou, até mesmo, as percepções a cerca da vida.
Evidente que cada pessoa vê o seu mundo pela sua janela, pelas suas experiências, vivencias e conhecimento de si mesma e do mundo. Mas o mais assustador disto tudo, é achar que uma simples opinião tem a pretensão de mudar os valores e a visão da vida de pessoas tão diferentes e com modo de vida tão singulares.
Tem gente que não conhece nada do mundo. Tem gente que não conhece nem a si mesmo. Então, seria loucura esperar que todos tivessem a mesma opinião sobre as coisas. Por enquanto, este negócio do medo não me afetou. Continuo livre e prezando pela felicidade de pensar e mudar de ideia a qualquer tempo. Os ataques que sofro pelas minhas opiniões mostra mais o caráter e o ódio das pessoas que precisam agredir, do que minha singela opinião sobre a vida.
No mais, gratidão por tanto prestígio.